É difícil de acreditar, mas cachorros, gafanhotos, macacos, cobras e formigas incitam a gula de muita gente ao redor do mundo
Os famosos escargots da cozinha francesa ainda não são bem aceitos por muita gente, mas encontrá-los em um cardápio por aí não é mais sinal de estranheza, pelo contrário, é sinônimo de requinte. Não estamos nem aí se eles são moluscos viscosos, hermafroditas, rastejantes, com tentáculos e habitantes de uma concha. Da mesma maneira, comer um saboroso steak tartare, que leva carne crua e gema de ovo igualmente fresca, também não é nada exótico.
No entanto, consumir carne de cachorro ou cérebro de macaco é, para nós daqui desse lado do globo, algo asqueroso. O que parece repulsivo em uma parte do mundo, em outra é simplesmente considerado almoço.
Existem diversos rituais alimentares, como em Manaus (Brasil), eles comem uma larva que fica dentro do coco e que é saborosíssima. Estoura dentro da boca e parece uma bala de coco. Existem muitos costumes “bizarros” pelo mundo. Talvez um dos mais impressionantes seja o que envolve o sangue de cobra, ingerido ainda quente pela população do Vietnã.
Essas culinárias exóticas tem um valor mais transcendental que propriamente gastronômico. Em alguns locais da Ásia, como na Tailândia, eles prendem a cabeça do macaco vivo, cortam, retiram o cérebro, colocam um pouco de shoyu e comem seus miolos. Esse ritual representa uma volta às tradições, já que o homem veio do macaco.
Mais antigo até que o porco, não se sabe quando o cão surgiu na terra, mas desde o começo ele era um meio de garantir a sobrevivência da população. Sua carne é parecida com qualquer caça, é até hoje consumida de diversas maneiras na China e na Coréia e possui derivados, como a lingüiça de cachorro. Qual é a diferença entre comer carne de cachorro e de cordeiro? O cavalo, largamente consumido na Europa, é outro exemplo da diferença cultural existente entre os povos. No Hemisfério Norte, é possível encontrar partes do animal congeladas, prontas para o cozimento.
No sul do Brasil, costuma-se comer o feto do bezerro (vitelo), retirado do abate da vaca prenha, e isso não é tão comum em São Paulo, por exemplo. A parte traseira, ou o bumbum, das formigas-içá (ou saúvas) também faz parte de outro costume nacional, e em Minas Gerais, elas dão origem a uma farofa. Os insetos têm muitas vitaminas e o valor nutricional também conta para explicar o porquê dessas tradições.
Muitas receitas são de fora do país, e o preço da importação não é nada doce. O ninho de andorinhas, feito com a saliva desses pássaros, custa mais caro que o açafrão verdadeiro, que já é vendido a preço de ouro no mercado mundial.
Pérolas da cozinha mundial
Escorpião frito (Cingapura): Por ser venenoso, o bicho é cozido antes de ser frito em óleo, as altas temperaturas do preparo desencadeiam uma reação química que neutraliza o veneno. A espécie preferida é o escorpião-negro, que é maior e tem menos veneno que o escorpião-marrom. O petisco é degustado usando hashi, esse par de varetas usado para levar a comida à boca.
Morcego à Caçarola (China, Vietnã, sudeste da Ásia): Os morcegos que fazem parte do cardápio humano são os que se alimentam de frutas. Por não serem venenosos e por sua dieta saudável, os morcegos frutívoros têm baixo teor de gordura e uma carne cuja textura é comparada à dos frangos. Além da caçarola (um guisado com carne, vegetais e batatas), outras boas pedidas são a sopa e a lasanha de morcego. Os entusiastas da carne de morcego acreditam que ela aumenta a potência sexual masculina. A Carne de morcego, tem gosto de sangue e é elástica.
Gafanhoto ou grilo frito (Tailândia): Não é frito, mas grelhado. É só colocar os insetos no espetinho e grelhar. Depois, tem que servir com um molho de pimenta.
Sangue de cobra (Vietnã): O sangue da cobra quente tem um valor místico: é afrodisíaco e traz força a quem bebe. Eles penduram a cobra de ponta cabeça num varal, fazem um rasgo do rabo à cabeça, cortam o pescoço e drenam o sangue. Colocam limão no copo e o sangue todo vai descendo, para ser ingerido na hora. Depois, tiram o couro dela, cortam em pedaços, fazem um refogado e servem.
Peixe Venenoso (Japão): O fugu ou baiacu, tem muita tetrodotoxina, um veneno dez vezes mais forte que o cianeto. Para que a iguaria não mate ninguém, o chef retira uma bolsa perto das brânquias com o veneno. Depois, ele fura a bolsa e espalha sobre a carne do peixe uma pequena dose da toxina, para provocar um certo “efeito alucinógeno” em quem come! Os cozinheiros e chefs de restaurantes são exaustivamente treinados até ganharem o aval para preparar o fugu para consumo. Mesmo assim, cerca de 20 pessoas morrem por ano, intoxicadas pelo veneno do peixe.
Cérebro de macaco (China, Tailândia e África): Séculos antes do Indiana Jones, os africanos já costumavam deglutir miolos de primatas. Primeiro, lave o cérebro com água fria. Depois, acrescente vinagre ou suco de limão, retirando membranas e vasos sanguíneos da camada mais superficial. Conserve em salmoura e ponha para cozinhar. A carne de macaco é rica em fósforo, proteínas e vitaminas, pode ser servido em sopas ou fresco, retirado na hora da cabeça do macaco. A carne de gorila, é considerado afrodisíaco. Na áreas rurais da Europa, fazem algum sucesso os cérebros de porco, de cordeiro e de carneiro…
Ninho de andorinhas (Ásia): Eles são feitos com a saliva dos pássaros e valem ouro no mercado gastronômico.
Tatu, içá, larva do coco (Brasil): Você pode até não ter visto, mas esses seres vivos são consumidos em diversas regiões do país.
Caldo de Turu (Brasil): O turu é um molusco de cabeça dura e corpo gelatinoso, tem a grossura de um dedo e vive em árvores podres, caídas. Consumido na ilha de Marajó e no interior da Amazônia vivo e cru, em caldo com farinha ou em moquecas, o bichinho é rico em cálcio e tido como afrodisíaco. O gosto é semelhante ao dos mariscos. O macaco-do-mangue também é um apreciador de turu. Os caçadores sabem disso e abusam, passando pimenta no molusco. Quando o macaco come o bicho, o ardor da pimenta desorienta o primata, tornando-o presa fácil dos caçadores.
Farofa de formiga (Brasil): O inseto aparece no cardápio rural brasileiro em certas áreas do Sudeste. A variedade preferida é o içá ou saúva. Uma formiga, dizem que tem um gosto parecido com amendoim. Além de consumida em farofas, ela também pode ser torrada com tempero ou congelada para comer durante o ano. E faz bem! Como vários outros insetos, as formigas são ricas em proteína, têm baixo teor de gordura e alto teor de fósforo. Do outro lado do mundo, os chineses usam formigas para fabricar um vinho que é útil no tratamento de reumatismo e no fortalecimento dos músculos e ossos.
Canguru ao Vapor (Austrália): O hábito de comer cangurus começou com os nativos australianos, que cortavam o animal em diversas partes. Hoje em dia, a carne do bicho é picada e cozida em vapor, com a adição de bacon, sal e pimenta para dar um temperinho. Até o rabo é aproveitado para fazer sopa! O gosto é comparado ao da carne de avestruz, uma carne vermelha bem forte.
Sopa de Cachorro (Ásia): Entre os coreanos, o cão é considerado bastante energético e, de acordo com a crença, melhora o desempenho sexual dos homens. Além da carne, a sopa leva legumes e tem um cheiro forte, principalmente por causa do tempero, em geral, especiarias como açafrão, cravo e canela. A venda da carne de cachorro já foi proibida por causa de protestos de protetores dos animais. Em países como a Coréia do Sul, a fiscalização é frouxa e muitos restaurantes continuam fornecendo o prato.
Caranguejeira frita (América do Sul, sul da África, Austrália): A caranguejeira ou tarântula apesar de pavorosa, não é venenosa e é a mais consumida no mundo por ser maior que as outras aranhas. A parte mais cobiçada é o abdômen do aracnídeo. É lá que fica a maior parte da carne, na cabeça estão as vísceras e no restante do corpo não há muito mais o que comer.