Considerada como inovadora e uma queridinha da moda para uns, a calça Saint Tropez é também um pesadelo e totalmente desconfortável para outros. Mas afinal, como é essa calça? E como ela surgiu?
A calça Saint Tropez foi criada em 1972 por Daniel Hechter, um designer de moda francês. O nome da calça foi inspirado na famosa cidade de Saint-Tropez, localizada na costa sul da França, um local muito popular na década de 70 para as férias da alta sociedade. Hechter se inspirou no espírito livre e despreocupado da cidade para criar a calça Saint Tropez, foi projetada para ser usada em ambientes elegantes e descontraídos. A calça Saint Tropez foi muito popular entre celebridades e socialites da França. Ela foi feita em uma variedade de tecidos, desde algodão até linho.
A calça tem uma cintura baixa e é enfeitada com detalhes como botões dourados, cintos e bolsos. O estilo original da calça Saint Tropez foi projetado para ser usado com blusas elegantes, mas também pode ser usado com camisetas e camisas.
O umbigo ficou escondido por muitos e muitos séculos até o surgimento da calça Saint Tropez e a barriga começou a ser exibida. Antes disso, o gancho padrão era sempre comprido, a altura do cós tinha normalmente 30 centímetros. O que hoje é considerado cintura alta, naquela época era calça normal.
Onde a moda feminina baseava-se majoritariamente em vestidos e saias que alongavam os corpos, com cortes retos e discretos, eis que surge uma peça de roupa diferenciada e altamente afrontosa. E foi em meio a este cenário, que surgiu a calça Saint Tropez, quebrando o padrão de vestimenta da época e dando liberdade às mulheres. Para quem vivia restrita a saias e vestidos, usar calça já era inovador, agora, usar uma Saint Tropez…
Começou nas praias, depois foi para as ruas e, aos poucos, o modelo foi se transformando. Inicialmente, a Saint Tropez delineava mais o corpo. Nos anos 1970, veio a boca pata de elefante e as opções em jeans, que conquistaram os hippies. E por aí vai.
Alexander McQueen, o pai da calça de cintura baixa
Décadas mais tarde, em 1995, o estilista inglês Alexander McQueen mostrou que dava para abaixar bem mais a altura do cós. Já no seu primeiro desfile, ele apresentou calças para lá de ousadas, que mostravam bem mais que o umbigo. “Não só a cintura na parte da frente era baixíssima, quase aparecendo o início da virilha, como atrás entrava com um decote que mostrava o risco inicial das nádegas. Foi um escândalo”, diz Lucas. Chamada de Highland Rape, em referência aos estupros cometidos pelas forças inglesas quando invadiram a Escócia no século 18. “Foi um grito contra designers ingleses vestindo roupas escocesas extravagantes”, disse McQueen à revista Time Out em 1997. A família de seu pai era da Ilha de Skye e ele se indignou ao estudar sobre esse período da História.
De fato, o clima sombrio da apresentação, que também era um protesto não-anunciado, chocou a todos. “As roupas eram cortadas no meio, como se alguém tivesse pegado a unha e aberto a peça”, descreve o editor de moda. Ainda assim, o designer decidiu levar o cós polêmico para seu primeiro desfile na Semana de Moda de Nova York no ano seguinte. Foi quando o modelo marcou para valer e foi apelidado de bumster, que significa “vagabunda” em inglês. “Muita gente considera essa a coleção de lançamento da calça. Foi a primeira vez em jeans, mas McQueen já havia feito antes em alfaiataria com tecido plano”, destaca Lucas. Porém, o que realmente cativou a atenção do público foi a cantora Madonna surgir em um comercial da MTV vestindo um par de bumster.
Após o lançamento da calça, muitas pessoas aderiram a moda e começaram a inovar seus look’s. Era muito comum o uso desta calça com míni blusas, o que favorecia as curvas da mulher. Logo adiante, em 1970, com o movimento hippie, o qual manifestava o movimento da contracultura, houve inovação com a calça Saint Tropez: essa passou a ter boca de sino, ser confeccionada em jeans e ganhou bordados e recortes.
Nos anos 80, a moda passa a ser as calças de cintura alta, no entanto, a Levis, apostou no modelo Saint Tropez, porém com modelos diferentes, sendo estes: Tight Fit e Slim Fit (caimento justo, apertado). Já no fim dos anos 90, a cintura baixa volta a moda, mas com um novo estilo e nome. A coleção Dante apresenta as calças bumsters com cintura baixa. E em 2000, Britney Spears retorna com a moda da cintura baixa, sendo a sensação da moda por toda a década. Nesta época, calças com cintura baixa eram um símbolo de sensualidade.
Cintura baixa só se tornou assunto novamente em 2012, no desfile do estilista Marc Jacobs para a NY Fashion Week. O intuito do estilista foi trazer peças que não atribuíssem a imagem da cintura baixa à sensualidade.
Curiosidades
- Este modelo de calça só chegou ao Brasil nos anos 70, quando ainda era uma febre e estava recebendo modificações de hippies.
- A calça Saint Tropez foi mencionada em no hit Cumade e Cumpade, de 1998, da dupla Leandro e Leonardo. O trecho da música que cita o modelo de calça é:
“Veste a calça Saint-Tropez… Que deixa o umbiguinho de fora…” - Outra pessoa que também citou a calça Saint Tropez em uma de suas obras, foi Carlos Drummond de Andrade, em sua crônica Umbigo. Ele não chega a citar o nome, porém faz referências a mesma e como ela impactou na época:
“Umbigos andam por aí desafiando tua capacidade de curtir o novo dentro do eterno. Se na praia eles não são percebidos, porque se inserem no quadro global, na rua, no coletivo, na loja, no escritório, são uma presença nova, uma graça diferente acrescentada ao espetáculo feminino, um dom sem destino certo, que é a bonificação de um ano em que tantos perderam na bolsa, mas acabaram lucrando na vista…”
A calça Saint Tropez ainda é popular hoje, com várias marcas de moda vendendo versões modernas do estilo. Ela é usada para criar looks elegantes e descontraídos para ocasiões casuais.