Com 1 mil toneladas de esterco sendo despejadas diariamente nas ruas, por mais de 300 mil cavalos de comércio e uso pessoal, produzindo cerca de 300 anos de poluição na atmosfera, com suas chaminés fabris e pessoas lançando dejetos e lixos no Rio Tâmisa, era de se esperar que a Londres da Era Vitoriana, em plena metade do século XIX, fosse infestada por ratos.
Se um dos trabalhos mais lucrativos, ainda que ingrato e muito arriscado, era o desempenhado pelos “homens do solo”, catadores de fezes públicas, claro que algo parecido teria que ser feito para os ratos também. Isso porque Londres era a metrópole que mais crescia na Europa naquele período, e tudo o que a rainha Vitória mais desejava era que a cidade ficasse apresentável para a quantidade avassaladora de visitantes diários. Então, nada melhor do que recrutar pessoas para fazer o trabalho mais sujo o possível, afinal de contas, a profissão de caçador de ratos ajudou a controlar a maré avassaladora da Peste Negra na Idade Média. No entanto, é a maneira como esses homens tiraram vantagem de sua posição que torna a história dela ainda mais fascinante.
Império de sujeira
Originada no Quebec do início século XIX, a profissão de caçador de ratos era desempenhada por homens pobres, mas com o crescimento da demanda, alguns ricos se sentiram inspirados pelo negócio e abriram pequenas empresas para empregar os caçadores e poder lucrar. Boa parte disso porque esses profissionais encontraram uma forma de construir um império ao comprar, caçar e vender esses ratos, aumentando a demanda de pedidos de exterminação devido ao crescimento populacional dos animais e, consequentemente, aumentando seus salários.
Portanto, quando a prática chegou em uma Londres infestada, os truques do negócio acompanharam os homens que se especializaram em capturar ratos. Muito ocupados em manter os animais longe dos estoques de alimentos que não tinham proteção o suficiente, os contratantes não chegaram a suspeitar do trabalho escuso dos catadores. Pelo contrário, eles foram colocados em uma posição muito respeitada e relevante na sociedade londrina.
Afinal, as pessoas percebiam que não era uma ocupação fácil, tendo que entrar em lugares insalubres e sujos, lidando com ratos potencialmente infectados ou raivosos, depois levando toda essa sujeira para as próprias casas. Nenhum dos dispositivos usados por eles, as varas de 3 metros e as gaiolas, os protegiam dessa possibilidade.
Fazendo dinheiro
A criação de ratos para serem soltos na cidade não apenas engordou os salários, como também originou os chamados “ratos chiques”, basicamente animais de estimação mantidos em gaiolas douradas pelos ricos.Personalidades históricas, como Beatrix Potter e a rainha Vitória, estão na lista das pessoas que compravam os ratos de estimação, geralmente de um homem chamado Jack Black, o mais famoso de Londres na prática de criação.
A popularização da função de caçador de ratos deu origem a rinhas de luta com os animais para apostas, angariando mais dinheiro ainda, visto que o Ato contra Crueldade Animal (1835), impediu que animais populares, como ursos e touros, fossem usados como iscas ou em esportes sangrentos de lazer.
26 de junho, Dia dos Caçadores de Ratos ou “Rat Catcher’s”
De acordo com a lenda, o Flautista de Hamelin hipnotizou 130 crianças, as levando para fora da cidade alemã de Hamelin. Em tributo de uma fundamental profissão dos tempos da peste bubônica, que era transmitida pelas pulgas e tinha nos ratos o vetor de transmissão, relacionada com o mito de “O Flautista de Hamelin”, visto que os Irmãos Grimm mencionam a data de 26 de junho de 1284, como o dia em que o flautista mágico encantou as crianças com sua música e as levou para fora da cidade com o toque de sua flauta.