O artista misterioso Banksy aproveitou a audiência do megafestival pop Glastonbury, na Inglaterra, para fazer um novo protesto contra o tratamento aos imigrantes que arriscam a vida cruzando ilegalmente o Canal da Mancha, lançando sobre a plateia um instável bote inflável transportando bonecos que “navegou” conduzido pelas mãos do público. Na hora do protesto, a banda Idles tocava a canção Danny Nedelko, de 2018 que abre com a letra: “Meu irmão de sangue é um imigrante, um lindo imigrante”.
Seguindo seu estilo, Banksy não falou sobre sua nova obra viva, mas no domingo (30/06) postou um vídeo no Instagram, sua forma de assumir a autoria de murais, intervenções em mobiliário urbano e performances. Ele tem 12,6 milhões de seguidores na rede social (https://www.instagram.com/banksy).
A manifestação aconteceu no dia 28 de junho, menos de uma semana antes das eleições gerais no Reino Unido, em que a imigração é um dos temas mais quentes. O movimento instável do bote inflável com os bonecos vestidos como imigrantes ilegais a bordo lembra a quantidade de pessoas que morrem na travessia entre a França e a Inglaterra, atravessando o Canal da Mancha em pequenos barcos. Os integrantes da banda disseram que não sabiam da intervenção de Banksy previamente, e muitas pessoas que estavam na plateia disseram acreditar que fazia parte da apresentação.
O festival de Glastonbury, um dos mais importantes do mundo, aconteceu no interior da Inglaterra, aconteceu no último fim de semana de junho 2024. Teve como destaques nesta edição nomes como Dua Lipa, Coldplay, SZA, Cyndi Lauper, Janelle Monáe, entre outros.
Banksy é um artista de rua, ex-grafiteiro, ativista político e, cineasta britânico, cujos trabalhos em estêncil são facilmente encontrados nas ruas da cidade inglesa de Bristol, em Londres e, em várias cidades do mundo. Estudos apontam sua identidade como Robin Gunningham, mas há controversias.
Novo ato de Banksy incomodou o governo
A controvérsia em relação à política imigratória e ao tratamento dado aos imigrantes ilegais tomou conta dos comentários nas redes sociais onde o vídeo apareceu, com usuários favoráveis a uma acolhida humanizada e outros defendendo que eles não sejam aceitos no país.
O novo ato de Banksy veio em má hora para o Partido Conservador. Segundo as pesquisas, o primeiro-ministro Rishi Sunak deverá perder as eleições e entregar o governo aos Trabalhistas depois de 12 anos no comando do país. O Secretário do Interior, James Cleverly, reclamou no Twitter / X sugerindo que não se deveria brincar com o tema, embora não tenha parecido uma brincadeira, já que Banksy frequentemente usa a arte para se manifestar sobre questões sociais e políticas.
Ele disse: “As travessias em pequenos barcos são mortais e custaram a vida de muitas pessoas. O público de um festival brincando com migrantes e celebrando as ações dos contrabandistas de pessoas enquanto se divertem é horrível. Quaisquer que sejam suas opiniões políticas, isso não é algo que devamos banalizar.” Em entrevista à Times Radio, o vice-primeiro-ministro Oliver Dowden também disse que a situação dos migrantes não deveria ser motivo de brincadeira em Glastonbury.
Bansky já protestou em Glastonbury antes
Longe de banalizar, a nova obra de Banksy, que começou a fazer murais em Bristol, mesma cidade da banda Iddle, e nunca revelou sua identidade, chamou ainda mais atenção para um dos principais temas da campanha eleitoral. Não é a primeira vez que o artista aproveita a visibilidade do Festival de Glastonbury, que este ano teve como principal estrela o Coldplay, para abordar temas polêmicos.
Em 2019, o artista projetou um colete à prova de facadas estampado com a bandeira do Reino Unido usado por Stormzy. Em 2014, ele assumiu a autoria de uma performance em que uma van de transporte de gado circulou com brinquedos de pelúcia dentro. Este ano a questão da imigração fez parte da programação oficial de Glastonbury, e por isso a performance de Banksy pode até ter sido combinada com os organizadores.
Os inscritos em um dos palcos, que ganhou o nome de Terminal 1 em alusão ao aeroporto de Heathrow, tinham que responder a uma pergunta do teste de cidadania do governo do Reino Unido para possíveis migrantes, criticado por incluir perguntas que nem os britânicos conseguem responder. As bandas e os funcionários eram todos imigrantes ou originários de famílias que escolheram o Reino Unido para viver.