Em fevereiro de 1996, Michael Jackson “parou” o Brasil simplesmente para gravar um videoclipe. Com cenas rodadas em Salvador e no Rio de Janeiro, o clipe de “They Don’t Care About Us” foi um grande acontecimento pop em nosso país. A ideia de gravar no Brasil foi do próprio Michael em sua terceira vinda ao país. Em setembro de 1974 fez três shows (São Paulo, Rio e Brasília) com os Jacksons 5. Em outubro de 1993 foram dois shows da turnê Dangerous em São Paulo. Assim, a nova vinda do rei do pop atraiu grande cobertura da imprensa e atiçou a curiosidade das pessoas. Todos queriam acompanhar seus passos em pleno verão brasileiro. A vinda do astro ficou marcada por diversos acontecimentos desde a interação entre ídolo e fãs até turbulências em um dos locais das gravações.
Proximidade com os fãs no Pelourinho
Michael desembarcou em Salvador no dia 9 de fevereiro na companhia de sua equipe e do diretor Spike Lee, onde gravaria a primeira parte do clipe no Pelourinho, em Salvador. As cenas contaram com a participação de 200 músicos do grupo afro-brasileiro Olodum. Um dos principais pontos turísticos da capital baiana serviu de palco para que Michael performasse em meio a centenas de fãs escoltados por policiais. De acordo com a cobertura feita pelos jornais da época, foram mais de cinco horas de gravação.
Na ocasião, muitas pessoas tentaram chegaram perto do cantor e algumas até se deram bem. Como foi o caso do garotinho que dança com Michael em uma das cenas.
As tensões nas gravações no Rio de Janeiro
No dia 11 de fevereiro, Michael seguiu para o Rio de Janeiro, onde teve a oportunidade de fazer uma passeio de helicóptero. Ainda que mais distante, ele fez questão de dar atenção ao público e apareceu na varanda do hotel para atirar objetos como fotos, bonés e até toalhas.
Mas a passagem pela Cidade Maravilhosa não foi tão tranquila quanto Michael e a equipe esperavam. A ideia por trás de “They Don’t Care About Us” era retratar a história de pessoas humilhadas em todo mundo e chamar atenção para os governantes que deixavam seu povo à deriva. Por conta disso, as filmagens programadas para acontecer na comunidade Dona Marta, localizada na zona sul do RJ, quase não aconteceram. Políticos se opunham às gravações com medo de mancharem a imagem do Rio de Janeiro, que à época visava sediar as Olimpíadas de 2004. A polêmica foi parar em Brasília, com a tentativa de barrar os vistos de trabalho de toda a equipe.
De alguma maneira, ter a aprovação do então prefeito César Maia facilitou as coisas para a equipe. Mas além de se acertar com a Polícia Militar, Guarda Municipal e Associação de Moradores, até mesmo o rei do pop precisaria ter uma autorização não-oficial: dos chefes do tráfico. Com todas as autorizações, Michael chegou cercado por seguranças e caminhou cerca de 15 minutos para chegar em seu camarim improvisado, que nada mais era do que uma casa da comunidade. Para as captações da segunda parte do clipe, ele escolheu uma camiseta do Olodum e não se intimidou ao cantar e dançar pelas estreias ruas da comunidade enquanto era observado pelos moradores, que no fim serviram como figurantes para o clipe.
Passeio de helicóptero pelo Rio de Janeiro
O passeio de Michael Jackson de helicóptero pela cidade durou meia hora e transformou-se numa aventura para os ocupantes dos cinco aparelhos envolvidos, dois levaram Jackson e seus convidados e três, jornalistas. Encantado com a igreja da Candelária e com o arsenal de Marinha, logo em frente, Jackson pediu que o piloto parasse. Tumulto. Os outros quatro pilotos, assustados, temiam pela parada sobre a área militar.
Novo susto ao sobrevoar o morro da Providência, atrás da Central do Brasil (centro), no caminho para o Sambódromo. “Aqui eles (os traficantes) não gostam de brincadeira. Avisa aí pro homem”, pediu um dos pilotos. A aventura prosseguiu quando Jackson pediu para sobrevoar a favela da Rocinha. Os cinco helicópteros fizeram rasantes sobre a favela, assustando os moradores. Depois da Rocinha, o alívio. “O homem pediu para voltar. Ele agora quer fazer compras. Até que enfim”, disse o piloto que transportou o cantor.