O lenço para o Gaúcho é muito mais do que trapo atado a meio peito, o lenço para o gaúcho tornou-se um conjunto de ideias, de pensamentos, de doutrinas ou de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações sociais e, principalmente, políticas. O lenço, sem sombra de dúvidas é, ou pelo menos já foi, a mais importante e influente peça de indumentária gaúcha, por tudo que representa na construção da nossa história.
Inicialmente, as tribos indígenas usavam uma tira feita de couro de pequenos animais, cipó ou então de embira para prender seus cabelos, pois eles mantinham o cabelo grande e comprido como era de costume.
Com a chegada dos padres Jesuítas, foram então introduzidos os tecidos aqui na província e ao confeccionarem suas roupas sempre sobravam algumas tiras que passaram a ter serventia para os índios, prender seus cabelos e afastar da região dos olhos para que os mesmos não atrapalhassem nas caçadas, disputas esportivas e também nas batalhas de guerra. Alguns ainda usavam os cabelos puxados para trás, rente à cabeça, no estilo “rabo de cavalo”, amarrado por um pedaço de tecido. Mais tarde, eles também passaram a usar uma faixa ou trança na cabeça, que geralmente era em couro, denominada de “vincha”.
A colonização do Estado trouxe na bagagem inúmeros artefatos e utensílios que mais tarde foram adotados como patrimônio cultural da nossa gente. O lenço de pescoço, por exemplo, pode ter surgido da evolução da gravata usada pelos europeus, ou então, aquele lenço que inicialmente era amarrado na cabeça e utilizado para conter o suor e também para proteger a cabeça do sol, passou a ser usado no pescoço, ainda com as pontas para trás.
Mas a sua consolidação foi quando passou a ser politicamente um indicativo partidário. O velho trapo agora era um modo de identificação; companheiros ou opositores eram reconhecidos a distância pela cor do lenço. Os farrapos que lutaram contra o Império usavam o lenço vermelho, atado de maneira própria como símbolo de um grupo que tinha ideias a defender. Na revolução Federalista de 1893 e 1923 estava de um lado o lenço branco (republicanos ou ainda chamados também de “chimangos”) e do outro o lenço vermelho (conhecidos como federalistas ou “maragatos”).
Desde os primeiros movimentos que indicavam a preocupação com resgate da cultura e a criação de um movimento para cultuar e difundir o tradicionalismo gaúcho, usava-se lenços que traziam consigo uma carga ideológica hereditária, claro que já sem rixas e pretensões políticas. Nos campos, nas lidas do dia a dia, usa-se o lenço por dentro da gola da camisa para não sujá-la em dias de poeira e também para limpar o suor de seu rosto. Por ser feito de seda, um tecido nobre, é uma eficiente arma de defesa durante as peleias de arma de corte, facas ou punhais, pois a seda neutraliza o fio da arma.
O lenço tem uma grande importância durante a celebração da Missa Crioula. Amarra-se um lenço vermelho e um lenço branco na cruz, simbolizando a paz eterna entre os gaúchos, o fim das batalhas e revoluções que foi firmado através do tratado de Poncho Verde, para que nunca mais se derrame sangue de um irmão por estes pagos.
Nos dias atuais, não possui mais a importância e a influência que teve no passado. Alguns ainda usam determinadas cores ou tipos de nós, sem se quer saber o que de fato esse lenço representa. “O lenço esvoaçado ao vento, no peito de um nobre gaúcho, é o resultado da altivez, da valentia e da conquista do nosso chão, e da coragem de muitos que lutaram por esse ideal. O lenço é a herança que trazermos e cultuamos como lembrança dos nosso ancestrais”.