Conjunto arquitetônico da Pampulha

A Igrejinha da Pampulha, nome correto é Capela Curial de São Francisco de Assis, foi a primeira igreja a ser construída dentro do espírito moderno no Brasil. Dentre as obras que compõem o Conjunto Moderno da Pampulha, a igrejinha é a que melhor casa arquitetura e estrutura: seus elementos ganham forma com o próprio concreto armado, uma vez concluída a estrutura, se fez presente a arquitetura. E essa estrutura apresenta uma sequência de cinco “cascas” articuladas, com diferentes alturas, sendo a maior independente e de seção variável que se encaixam formando a nave. Mesmo fazendo alusão à tradição da arquitetura religiosa mineira e franciscana com a sineira, o coro, o púlpito e o batistério, a Igreja Católica alegou que a edificação não possuía os elementos sacros necessários. Aos olhos do arcebispo Dom Antônio dos Santos Cabral, a igrejinha era apenas um galpão.

Além das formas inusitadas, o painel de Cândido Portinari no altar, em que se vê um cachorro representando um lobo junto à São Francisco de Assis, escandalizou a tradicional família mineira e a capela permaneceu fechada por quatorze anos, proibida ao culto. O interior também abriga a Via Crúcis, representação do trajeto de Jesus Cristo carregando a cruz que vai do Pretório de Pilatos até o monte Calvário, ou seja, do momento em que é condenado à morte até seu sepultamento. Composta por quatorze pequenos painéis, é considerada uma das obras mais significativas de Portinari.

Também na parte interna está o alto relevo esculpido em bronze por Alfredo Ceschiatti. A obra, que lhe rendeu prêmio no Salão Nacional de Belas Artes de 1945, faz parte da estrutura do batistério, estrutura que serve para envolver e guarnecer a pia batismal e onde são realizados os batismos cristãos.

A entrada da igreja é voltada para a Lagoa da Pampulha. O que pouca gente sabe é que trata-se de uma lagoa artificial, construída com o objetivo de aplacar as enchentes e contribuir para o abastecimento de água da capital mineira. Apesar de ter sido iniciado em 1936 sob o comando do prefeito de Belo Horizonte à época, Otacílio Negrão de Lima, o projeto só foi concluído na gestão de seu sucessor, Juscelino Kubitscheck. De dentro da igrejinha, é possível ter um bela vista da lagoa.

Atualmente, além das missas, a igreja está disponível para a realização de casamentos. Mas, se não coincidir de sua visita acontecer em um desses momentos, a visitação interna é permitida com o pagamento de ingresso. Para conferir os horários de funcionamento, visite a página da Arquidiocese de Belo Horizonte.

A construção da igreja ocorreu entre 1943 e 1945, tendo sido a última obra do conjunto a ser inaugurada. O projeto arquitetônico é de Oscar Niemeyer e o cálculo estrutural do engenheiro Joaquim Cardoso. No projeto, Niemeyer faz experimentos com concreto armado, abandonando a laje sob pilotis e criando uma abóbada parabólica em concreto que dispensa alvenarias, uma opção até então só usada em hangares. Esse foi o início do que se tornaria a diretriz de suas obras: a preponderância da estrutura em concreto armado e as formas ousadas e marcantes.

Um dos grandes destaques da igreja é o painel de azulejos em tons azuis e brancos na fachada voltada para a rua. A obra, assim como alguns dos elementos internos, é de Cândido Portinari, descendente de italianos nascido em uma plantação de café próxima à São Paulo. Portinari estudou na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, onde ganhou uma medalha de ouro em 1928 e a oportunidade de viajar para Paris. A jornada influenciou o artista, sua postura política e sua obra, em que buscava retratar nossa realidade, desde as belezas naturais à vida do povo sofrido.

As paredes laterais da igrejinha são cobertas pelos mosaicos abstratos de Paulo Werneck, artista plástico brasileiro e importante colaborador do modernismo. Ele foi o responsável pela introdução da técnica do mosaico no Brasil e o painel da igreja é um de seus mais notáveis trabalhos.

Além das formas desenhas por Niemeyer e as obras de arte, é importante destacar que os jardins foram projetados por Burle Marx, arquiteto e paisagista reconhecido internacionalmente e com participação ativa na definição da arquitetura moderna brasileira. Se tiver oportunidade, estenda o seu passeio até a noite, pois a igrejinha recebe uma iluminação colorida e fica especialmente interessante, se destacando na paisagem.

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